sexta-feira, 8 de novembro de 2019

96-FERNANDO DE MENDONÇA: O CRIADOR DO INPE

https://ooraculodeclio.blogspot.com/2019/11/97-fernando-de-mendonca-o-criador-do.html
96-FERNANDO DE MENDONÇA: O CRIADOR DO INPE

“Eu ia constantemente à Nasa para termos colaboração e podermos usufruir de benefícios dos projetos deles. Eu vi lá fora os pesquisadores todos aprumados e entendi que aqui tínhamos que mostrar esse zelo. Não existia uma cartilha sobre ‘como criar um instituto’, então visitei institutos no exterior e aprendi fazendo”.

Fernando de Mendonça foi Diretor do INPE de 1963 a 1976 e é o pai do PEB-Programa Espacial Brasileiro. 

“Até hoje as coisas são muito arrumadas no INPE. E a participação do INPE foi importante no esforço para entender fenômenos espaciais. O Instituto começou com a área de ciências espaciais e depois houve uma migração aos poucos para a área de aplicações, como ocorreu no mundo todo” (Luiz Gylvan Meira Filho- Ex-diretor científico, chefiou áreas de meteorologia e observação da Terra e atual membro do Conselho Técnico-Científico do INPE.)

“Dr. Mendonça criou uma equipe com vários especialistas, dada a multidisciplinaridade do sensoriamento remoto. Levava todos os inpeanos a sonhar com ele”.(Mário Valério Filho-acompanhou as primeiras pesquisas na utilização de imagens de satélites no INPE).

“Apesar de aposentado, continuo vindo. Nunca deixei de trabalhar porque fui enfeitiçado pelas ideias do Dr. Mendonça”

(Ivan Jelinek Kantor-está no INPE há 48 anos, é membro da 1ª turma do curso de pós-graduação em Ciência Espacial) 

Ele demonstrou que havia ampla razão para investir em meteorologia, observação da Terra e até educação” (Aydano Barreto Carleial- atuou na Engenharia Espacial do INPE e no estabelecimento de projetos nesta área) 

“Ele tinha garra, sensibilidade e determinação, ao mesmo tempo em que era muito exigente e até intransigente. Mas era um incentivador do aprendizado, que proporcionou o crescimento das pessoas”. (Neusa Maria Dias Bicudo- participante do projeto SACI [Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares])

“Ele teve destacada atuação para montar a OS (Organização Social) para restaurar o Parque Vicentina Aranha”. (Luiz Paulo Costa- jornalista e ex-vereador de São José dos Campos.)

“Ele continua batalhando pelo desenvolvimento do País”. (Roberto Tamlyn de Mendonça- filho).

Nascido em 2 de dezembro de 1924 na cidade cearense de Guaramiranga, ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB) em 1943 e, dez anos depois, no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) para cursar Engenharia Eletrônica. 

Em 1958 graduou-se com menção honrosa “summa cum laude” - concedida aos alunos do ITA que obtêm média superior a 9,5 em todas as matérias – e partiu para o doutorado em Ciências Espaciais na Universidade de Stanford (PhD with Honors) e atuou como pesquisador visitante nos Estados Unidos com apoio da NASA. 

Na década de 1950 desenvolveu o projeto que resultou no GOCNAE (Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais), órgão criado em 1961 e que deu origem ao INPE.

À frente do INPE até 1976, foi responsável pela formação de recursos humanos e por projetos em diversas áreas (monitoramento do meio ambiente, meteorologia, ciências espaciais, engenharia, capacitação industrial...).

Depois de passar pelo CTA/IPD fez seu doutorado em Radiociência pela Universidade de Stanford, onde foi professor associado. 

Foi Diretor Científico do GOCNAE.

Como representante do CNPq junto à NASA, manteve contatos fundamentais no processo de criação do INPE.

Foi o 1º diretor do INPE, onde o Auditório do Laboratório de Integração e Testes leva o seu nome.

Biografia: 

1924- Nasceu em 2 de dezembro de na cidade de Guaramiranga-Ceará. 

1937/41 - Conclui Ensino Médio no Liceu do Ceará.

1943- Obteve o brevê de piloto privado no aeroclube local, ingressando na FAB (Força Aérea Brasileira). 

1945/48- Depois de passar pelo Rio de Janeiro e por um curso de aviador naval na Marinha Norte-Americana, foi declarado Aspirante Aviador da Reserva. 

Foi designado para o grupo de Bombardeio do Recife. 

Fez o curso teórico regular da AFA na então Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro.

1948/51 - Chefia e colabora na organização do serviço de inspeção e exames para pilotos civis na Diretoria da Aeronáutica Civil . 

1951-Entra na Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos (RJ). 

1954-Completa o curso teórico em janeiro, em 2º lugar (entre mais de 100 oficiais). 

Ingressou no ITA

1954/58- Graduou-se em Engenharia Eletrônica do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) com "Summa Cum Laude"(maior prêmio do ITA para quem só tira nota acima de 9,5 em todas as disciplinas). 

1957- Fernando de Mendonça e Júlio Alberto Coutinho montam a estação Minitrack Mark II para receber sinais dos satélites do "Projeto Vanguard". 

1958- É promovido à Primeiro Tenente. 

Juntamente com Júlio Alberto Coutinho recebe o prêmio máximo da Shell por planejar e construir a Minitrack Mark II.

1959- Recebe a bolsa da Capes para a Universidade Stanford. 

1961- Recebe o título de PhD no campo de Radiociência. com menção especial do em sua tese do Comitê de Estudos da Pós-graduação da Universidade de Stanford. 

Seus estudos experimentais do curso de doutorado tiveram o apoio da NASA. 

Foi destaque na década de 1960 pela revista "Vectors" como responsável pelo avanço das telecomunicações no Brasil, em especial na área de tele-educação. 

Cria o GOCNAE (Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais), órgão que deu origem ao INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

1962- Vira associado de pesquisa no laboratório de Radiociência da Universidade de Stanford, participando do programa científico da NASA. 

Representa a CNAE (Comissão Nacional de Atividades Espaciais) nos Estados Unidos, preparando o programa de pesquisa científica e submetendo propostas para organizações do governo americano. 

Formou equipes e iniciou o laboratório de Física Espacial da CNAE. 

1963- Foi promovido a capitão engenheiro de aviação. 

Auxiliou a Força Aérea na criação de um grupo de estudos e projetos especiais, tendo como resultado a construção da Base de Lançamento de Foguetes da Força Aérea no Rio Grande do Norte. 

Foi Diretor Científico da CNAE. 

1963/76- Foi o 1º Diretor Geral do INPE. 

Treinou um grupo de pesquisadores brasileiros em Física Espacial. (Em sua homenagem, o auditório do LIT (Laboratório de Integração e Testes) do INPE leva o nome de Fernando de Mendonça). 

1965- Obteve da NASA o equipamento para a base de lançamento de foguetes e treinou os membros do GETEPE e CNAE nos laboratórios da agência espacial estadunidense. 

Organizou o Segundo Simpósio Internacional em Aeronomia Equatorial (sediado em São José dos Campos, reunindo mais de 100 cientistas, de 20 países), obtendo recursos estrangeiros para tal empreendimento. 

1966- Expande projetos e novos programas de cooperação nos Estados Unidos (GRANADA, POEIRA, EXAMETNET, NEUTRON, AEROBEE) e na Alemanha (teste do Satélite Alemão). Tais projetos estavam sendo executados na Base de Lançamento de Barreira do Inferno. 

Coordena as atividades no Brasil de Observação do Eclipse total Solar em 12 de novembro. 

500 técnicos participaram do evento. 

Foi condecorado com medalhas por tempo de serviço (pela companhia no Atlântico Sul) e Mérito Santo Dumont (prêmio da Força Aérea Brasileira e mérito da Aeronáutica). 

Promoveu o intercâmbio de cientistas na América Latina e publicou vários artigos. 

1967- Coloca em execução um programa em colaboração com a França e coordena um programa para aplicação de sensoriamento remoto no Brasil. 

1976/77- De outubro de 1976 a fevereiro de 1977 estagiou no IIASA (International Institute for Applied Systems Analyses), em Viena (Áustria). 

1977/82- Após deixar o INPE, foi Diretor Executivo da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). 

Dirigiu a formação de centenas de doutores na Alemanha para o Programa Nuclear Brasileiro. 

1983- Atua no setor privado, na área de telecomunicações via satélites e representações no setor espacial. 

1988- Criou sua própria empresa no setor de telecomunicações via satélite. 

Um de seus atuais projetos é criar Instituto de Fotossíntese Artificial no Ceará, outro é fazer com que o Brasil tenha um ganhador do Prêmio Nobel até 2036. Está selecionando talentos para estudar no exterior em parcerias com universidades dos Estados Unidos para receber jovens brasileiros. 

“Sou teimoso e não desisto. Tem que sonhar grande. Vamos chegar lá!” 

Membro das seguintes organizações: 
  1. Academia Nacional de Engenharia 
  2. American Geophysical Union 
  3. Comité Interamericano de Pesquisas Espaciais 
  4. Clarc Y Fe-Conselho Latino Americano de Raios Cósmicos e Física Espaciais (Secretário Executivo) 
  5. IEEE-Institute of Electrical and Electronic Engineers 
  6. Sociedade Paulista de Engenheiros de Rádio 
  7. Sociedade do SIGMA XI 
  8. Comitê Brasileiro para o Ano do Sol Calmo 
  9. Comitê Internacional para o Ano do Sol Calmo (Representante na América Latina) 
  10. Grupo Executivo da Comissão Nacional de Atividades Espaciais 
  11. American Society of Advancement of Science 
  12. Comitê organizador do Simpósio Internacional da Astronomia Equatorial (Secretário Geral) 
  13. American Meteorological Society 
  14. Comissão brasileira de Astronomia 
  15. Comissão Nacional para Estudos do Eclipse (Coordenador Geral) 
  16. EXAMETNET-Comitê Executivo da Cadeia Internacional para Lançamento de Foguetes Meteorológicos (representando o Brasil) 
  17. U.R.S.I.– União Rádio Científica Internacional (Coordenador do Brasil) 
  18. Conselho de Administração do Parque Tecnológico (de São José dos Campos) 
  19. Instituto Municipal de Desenvolvimento (de São José dos Campos) 
  20. AJFAC-Conselho de Administração da Associação Joseense para Fomento da Arte e Cultura (Presidente) 
Medalhas e Honrarias 
  1. Prêmio máximo da Shell (Minitrack Mark II) 
  2. Ordem do Mérito Aeronáutico 
  3. Comendador da Ordem de Rio Branco (Ministério das Relações Exteriores) 
  4. Medalhas por tempo de serviço, pela companhia no Atlântico Sul 
  5. Medalha Santos Dumont 
  6. Medalha da Abolição (Governo do Estado do Ceará) 
  7. Prêmio Força Aérea Brasileira 
  8. Ordem Nacional do Mérito Educativo 
  9. Ordem do Mérito Cartográfico 
  10. Medalha Militar de Serviço 
  11. Mérito do Comitê de Ciências e Astronáutica do Congresso dos Estados Unidos da América 
  12. Homenagem da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará 
  13. Cidadão Honorário de São José dos Campos (SP) 
  14. Homenagem do Ano 2012 da CNI - Confederação Nacional das Indústrias

Aroldo Historiador
30/05/2019



Anexo:
São José dos Campos, 18 de março de 2016 

HOMENAGEM AO DR. FERNANDO DE MENDONÇA 

L.F.Perondi 

Boa tarde. 

É, para mim, uma grande distinção estar aqui promovendo a abertura desta cerimônia em que homenageamos o Dr. Fernando de Mendonça, um dos pioneiros e fundadores deste Instituto, e do programa espacial brasileiro. 

Trata-se de uma cerimônia, certamente, muito especial para a comunidade inpeana, pois combina a homenagem e reverência a um dos fundadores e idealizadores do INPE com uma rememoração da trajetória do próprio Instituto. 

O evento foi concebido de tal forma que, através da exposição e depoimento de colaboradores, amigos e familiares, são repassadas passagens da trajetória profissional do Dr. Mendonça, as quais cobrem desde o pioneirismo no estabelecimento da área espacial no país, até a sua atuação presente e planos de futuro. 

Em nome do Instituto, agradeço muito a todos os expositores que contribuem para a realização deste evento: Gylvan Meira Filho, Mário Valério Filho, Ivan Jelinek Kantor, Aydano Barreto Carleial, Luiz Paulo Costa, Neusa Maria Dias Bicudo e Roberto Tamlyn de Mendonça. Previamente a cada exposição, será efetuada uma breve apresentação de cada um dos expositores. 

Em continuidade a esta breve intervenção, procurarei efetuar uma introdução sucinta à biografia do Dr. Mendonça até a instituição da CNAE, em 1961, e, após, uma breve tentativa de identificar, esquematicamente, as contribuições do Dr. Mendonça à estrutura apresentada hoje pelo INPE, que poderia ser considerada como uma breve introdução a pontos que serão aprofundados nas exposições que se seguirão. 

Fernando de Mendonça nasceu em 2 de dezembro de 1924, na cidade cearense de Guaramiranga. Ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB) em 1943, e nos anos seguintes atendeu o curso de aviação naval, junto à Marinha Americana. De 1945 a 1948, esteve estacionado no grupo de Bombardeio do Recife, e de 1948 a 1951 trabalhou na Diretoria da Aeronáutica Civil, onde chefiou e colaborou na organização do serviço de inspeção e exames para pilotos civis. 

Em 1951, ingressou na Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos (RJ), completando o curso em janeiro de 1954. Ainda em 1954, já como oficial, ingressou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para cursar Engenharia Eletrônica. Em 1958, graduou-se com menção honrosa “summa cum laude”. 

Terminado o curso no ITA, em 1958, licenciou-se do Ministério da Aeronáutica, para fazer o doutorado, na universidade de Stanford, em Ciências Espaciais. Nessa época, atuou, também, como pesquisador visitante nos Estados Unidos com apoio da NASA. 

Em 1961, após concluir o curso no tempo mínimo de três anos, recebeu o título de PhD no campo de Radiociência, na área de Ciências Espaciais. A sua tese teve menção especial do Comitê de Estudos da Pós-graduação da Universidade de Stanford. 

Ainda, em 1961, é convidado para integrar o grupo de trabalho de instituição do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE). 

Segundo suas palavras, em entrevista recente, havia muito pouco no início do programa: uma sala com duas mesas dentro do CTA, dois auxiliares e uma Kombi velha. Esse foi o início do Programa Espacial Brasileiro. 

Como diretor científico do GOCNAE, juntamente com Abrão de Moraes e Aldo Vieira da Rosa, estabeleceu a estratégia e implantou as ações necessárias à formação de massa crítica (RH) para a área espacial brasileira, bem como a nucleação de seus principais programas. 

Passo, agora, à tentativa de identificar, esquematicamente, as contribuições do Dr. Mendonça à conformação atual INPE. De forma sucinta, poderíamos resumir a atuação do Instituto, hoje, após seus 55 anos de trajetória, como ocorrendo em três camadas: acesso ao espaço, infraestrutura de solo para sistemas espaciais e aplicações de dados e serviços provenientes de sistemas espaciais. 

Em uma primeira camada, o Instituto busca desenvolver a capacitação e a autonomia nacionais na colocação de sistemas espaciais em órbita para a geração de informações, tais como imagens da superfície do Planeta, e a disponibilização de serviços, tais como os de coleta de dados hidrometeorológicos através de plataforma terrestres remotas. Como exemplos da atuação do Instituto neste nível, citamos o desenvolvimento e fabricação dos satélites SCD-1, lançado em 1993, SCD-2, lançado em 1998, CBERS-1, em 1999, CBERS-2, em 2003, CBERS-2B, em 2007, CBERS-3, em 2013 e CBERS-4, em 2014. 

Em uma segunda camada, o Instituto busca desenvolver e implementar a infraestrutura necessária para o rastreio e o controle de satélites em órbita e para a recepção, armazenagem e distribuição das informações ou serviços gerados. Neste nível, o INPE desenvolveu e opera extensa infraestrutura de antenas e equipamentos, instalados principalmente em Cuiabá, Alcântara, Natal, Santa Maria e Cachoeira Paulista. 

Em uma terceira camada, encontra-se a aplicação das informações geradas por sistemas espaciais, para o provimento de produtos e serviços inovadores à sociedade. Neste nível, o Instituto, em sua trajetória, nucleou no país quatro áreas de aplicações: Ciência Espacial, Previsão Numérica do Tempo, Observação da Terra e Ciência do Sistema Terrestre, que constituem as chamadas áreas de aplicações do INPE, através das quais, além de tornar disponível ao país novos conhecimentos científicos e tecnológicos na área espacial, o Instituto busca aplicar estes conhecimentos no atendimento de demandas nacionais, objetivando, essencialmente, traduzir o avanço científico e tecnológico em geração de riqueza e aprimoramento da capacidade competitiva do país. 

A operação em cada área de atuação do Instituto é caracterizada por projetos de pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento, chegando, mandatoriamente, a produtos e serviços inovadores, que impactem a vida do cidadão. Em cada área, busca-se, assim, ir do conhecimento até o desenvolvimento e oferta de produtos e serviços inovadores à sociedade. Esta é uma característica que distingue o INPE até os dias de hoje, e que acompanha o Instituto desde a sua origem. 

O Dr. Mendonça, como um dos instituidores do Instituto e, posteriormente, em sua trajetória como diretor, esteve à frente de iniciativas que nuclearam a competência do INPE nestas três camadas de atuação. 

No que tange ao acesso ao espaço, atuou na estruturação e implantação do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). Inaugurado em 1965, o CLBI, em sua fase inicial de operação, de 1965 até 1970, lançou algo próximo a uma centena de foguetes de sondagem, em cooperações internacionais, com os Estados Unidos, França e Alemanha. Estas cooperações internacionais, todas com escopo científico e de caráter civil, foram estabelecidas pelo INPE sob a liderança do Dr. Mendonça, que desfrutava de grande prestígio científico internacional, principalmente junto à recém criada National Aeronautics and Space Administration (NASA). 

Os trabalhos de desenvolvimento, fabricação e instrumentação de cargas úteis para estas missões constituem-se no embrião do que veio, posteriormente, a se constituir na área de engenharia do INPE e seus laboratórios associados, incluindo o Centro Regional de Natal, no Rio Grande do Norte. 

A maioria das missões com foguetes de sondagem objetivavam estudos em aeronomia. Em 1965, foi realizado, em São José dos Campos, no INPE, o congresso internacional de “Aeronomia Equatorial”, que “... envolveu mais de 300 cientistas estrangeiros ...”. Estas iniciativas, somadas à formação de recursos humanos na área, podem ser vistas como o embrião da área de ciências espaciais do INPE, que, hoje, se constitui na referência nacional para estes estudos, além de contar com grande expressão internacional. 

Neste mesmo período foram, também, estabelecidas as iniciativas que nuclearam as correntes áreas de meteorologia científica e de sensoriamento remoto do INPE. 

O programa de meteorologia por satélites, denominado de programa MESA, foi estabelecido em 1966, enquanto que o primeiro programa de estudos e levantamento de recursos naturais, via satélite, denominado à época de Programa de Sensoriamento Remoto por Satélites (SERE), teve o seu início em 1968, e objetivava a recepção, o processamento e a disseminação de imagens de satélites, e o desenvolvimento de metodologias para aplicações destas imagens. 

O programa SERE teve grande impulso com o estabelecimento da Unidade Regional de Cuiabá, em 1972, e o início da operação da primeira estação de recepção de imagens de satélites, em 1973, para aplicações em sensoriamento remoto. O Brasil foi o terceiro país a receber dados da série de satélites Landsat, após Estados Unidos e Canadá. 

Mas, talvez, a área de maior preocupação no estabelecimento do programa espacial e à qual o Dr. Mendonça dedicou atenção especial foi a de formação de recursos humanos qualificados. 

Relativamente à metodologia, conforme depoimento seu recente, obtém-se a seguinte descrição: “...Visitamos diversas universidades brasileiras e selecionamos alguns alunos que estavam recém-graduados... conversávamos com os professores, descobríamos quem eram os melhores alunos da turma de Engenharia, de Física e os convidávamos para ingressar na carreira espacial. A maioria aceitava o desafio. Depois de selecionados, esses alunos ganhavam bolsas de estudos. Primeiramente, faziam o curso preliminar dentro do GOCNAE. Depois eram enviados para os Estados Unidos, onde ganhavam bolsas da NASA e de universidades americanas para se especializarem e retornarem com uma bagagem significante ..." . 

O esforço empreendido foi admirável, bem como os seus resultados, pois neste breve período foram enviados aos EUA entre 80 e 100 alunos para o doutorado, que, a partir de 1965, passam a retornar ao país para estruturar os projetos e as diversas iniciativas, acima descritas. 

Além do esforço de formação de pessoal no estrangeiro, houve grande esforço, também, no sentido inverso, ou seja, na atração de cientistas estrangeiros para trabalharem no programa espacial brasileiro, no Brasil. 

Somente para citar um exemplo, 26 pesquisadores estrangeiros, oriundos da índia, a maioria com formação na área de ciências espaciais, mudaram-se com suas famílias para São José dos Campos, neste período. 

Em 1968, têm início as atividades de pós-graduação em Ciências Espaciais e Atmosféricas, Eletrônica e Comunicações e Engenharia de Sistemas, base das grandes áreas de atuação do INPE: Ciências Espaciais, Sensoriamento Remoto, Meteorologia e Engenharia e Tecnologia Espaciais. Hoje, o programa de pós-graduação do INPE conta com sete cursos e é referência nacional em diversos de seus cursos. 

Através deste breve retrospecto, vê-se que muito do que é hoje a estrutura do INPE teve as suas bases lançadas na fase pioneira de estabelecimento do Instituto, sob a liderança do Dr. Mendonça. 

Muito mais sobre estas realizações será apresentado nas exposições que se seguem. 

De modo a tornar acessível a todos as contribuições do Dr. Mendonça ao programa espacial e ao INPE, será lançado um sítio comemorativo que reúne fotos, vídeos, entrevistas, artigos e a produção científica do Dr. Fernando de Mendonça. A apresentação do sítio será efetuada pela Bibliotecária Sra. Marciana Leite Ribeiro. 

Finalizando esta intervenção, quero, então, em nome de todo o quadro do Instituto, expressar nosso reconhecimento e admiração pela obra do Dr. Mendonça na estruturação do programa espacial brasileiro e, muito particularmente, no estabelecimento do INPE.

Muito obrigado.



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