terça-feira, 5 de novembro de 2019

54-CAPOEIRA MUNDIAL


INTRODUÇÃO:

Capoeira, eis uma arte múltipla: marcial, dança, canto e arte popular. Dela saiu o Frevo pernambucano, o maneiro-pau e a luta de facão do congado, o samba de roda e o street dance. E ela absorveu golpes do Caratê com o Grã-Mestre Pinate e de outras artes-marciais como o judô.

Mestre Bimba criou a Regional com sequências, toques rápidos e jogo em pé. Antes, Mestre Partinha criara a Angola com toque lento e jogo no chão. Seus principais instrumentos são o berimbau, pandeiro e atabaque. Na época de Getúlio Vargas é que será criada uma federação brasileira de capoeira.

Ainda hoje o capoeirista é visto com preconceito por muitos no Brasil, enquanto mundo afora ela é praticada pela elite. Deveria haver aula de capoeira em todas as escolas brasileiras, pois esta arte marcial é nosso patrimônio histórico-intelectual, mas não lhe é prestado o devido valor.

Uma das figuras mais fortes do Brasil é justamente a do malandro carioca jogador de capoeira, com seu terno branco, que os grã-mestres usam para se reunirem em Manhattan e outros lugares do mundo.

Neste ensaio Capoeira mundial abordamos uma nova visão histórica em relação à capoeira.

CAPOEIRA MUNDIAL

A história das nações humanas é antiga. O homem é um guerreiro nato. Junto com as nossas sociedades nascem as artes marciais, e aqueles que as dominam ganham grande prestígio e se tornam mestres.

É sabido que as primeiras civilizações, diferente de hoje, davam-se mais por consanguinidade que por região e assim, sem a ideia de patriotismo, é possível que muitas famílias tenham povoado o mundo inteiro dentro de um espaço de tempo considerável antes que a ideia do que é mundo propriamente dito existisse ou prosperasse entre os homens.

A escravidão, ao que parece, surgiu com as grandes civilizações, ou pelo menos se perpetuou em larga escala, uma vez que pequenos povoados não carecem de terceiros para se manterem. A História vai além das versões, por isso mesmo é uma ciência de aproximações.

A História é uma fraude, pois ainda é tratada por muitos como verdade absoluta contida nos diários oficiais e documentos que escondem fatos graves da população em função de garantir o trono de quem não merece estar no poder.

Cabe aos novos historiadores explodir essa História positivista de verdades acabadas e falcatruas, e, auxiliados pelos demais cientistas, juntar os cacos da História real; que teoriza, se fundamenta em provas e raciocina além. O historiador tem a obrigação de imaginar acontecimentos a mais, pois mesmo em erro, o pensador tropeça em verdades submersas. E esse tropeço ajuda a desenterrá-las.

O Brasil é um local povoado por gente de toda parte do mundo e sua história sempre foi mal contada, repleta de heróis sanguinários e usurpadores que, vindos de fora, ainda se achavam no direito de se dizerem brasileiros civilizados quando não passavam de piratas. Esses piratas escravizaram as nações daqui e trouxeram escravos das nações do continente africano, segundo os relatórios oficiais. Agora, mesmo que em menor escala, quem garante que gente do mundo inteiro não foi escravizada aqui, se ainda hoje o é, e a notícia só chega às autoridades anos depois?

Assim como vieram príncipes negros, será que também não vieram príncipes brancos e amarelos para o cárcere, via navio escravocrata? A capoeira é a fusão de muitas artes marciais, talvez do mundo inteiro, no Brasil.

Será que a capoeira como a conhecemos hoje não é a fusão de muitas capoeiras no tempo do Brasil-colônia? Talvez os saltos mortais, que fundaram o Street-dance e a luta de facão apresentada no congado, que criou o Frevo, não tenham se desenvolvido no mesmo lugar. Aí já teríamos pelo menos duas capoeiras diferentes. Uma terceira seria a Angola, tida como original, em que se luta no chão. Uma quarta seria a Regional, em que se luta mais rápido e de pé.

Se a capoeira fosse afro-brasileira puramente, nascida no Brasil com a fusão da cultura africana, por que só nasceu aqui? Muito estranho, pois não estamos no único local do mundo onde houve escravos negros.

Eu diria que, a participação das nações daqui é esquecida nesse processo de formação. Será que não surgiram artes-marciais de fusão nos próprios aldeamentos jesuítas? É possível que os caciques e pajés tenham unido tribos e treinado em lutas, planejando estratégias para atacar esses povos com arma de fogo que os exploravam.

Não estou negando a importância da cultura negra, porém, penso que a capoeira puramente afro não teria berimbau, pandeiro nem saltos mortais. A capoeira é uma arte escrava. E quem escraviza um preto escraviza um branco.

Cabe aos historiadores quebrar mitos, e na capoeira, alguns deles são: A orquestra de 3 berimbaus, as cordas coloridas para identificar a graduação do capoeirista, o atabaque com cordas como se fosse típico, o uniforme branco ou abadá e dos movimentos ritualizados da capoeira Angola na contemporaneidade.

Como alerta Mestre Acordeon, na revista "Praticando Capoeira" de setembro de 2002, numa crônica, muitas modas na capoeira são criadas hoje em dia como se fossem tradicionais, anacronismo, dificultando a vida dos historiadores da capoeira que, segundo o mestre, não podem se deixar levar pela história oral e documental sem uma profunda análise crítica.

Essa arte-marcial brasileira que hoje roda o mundo é ímpar, pois é a única que tem sua ritmização pela música, estando enraizada no samba e na própria história de nosso país. Os quilombolas daqui foram os samurais brasileiros, nossos ancestrais. Temos capoeira no sangue.

Aroldo Historiador
26/05/2009

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