segunda-feira, 4 de novembro de 2019

28-ANTÔNIO MACIEL

28-ANTÔNIO MACIEL

Por onde andarão os restos mortais de Antônio Conselheiro? Quem deu a Prudente a imprudência de tirar do mapa uma comunidade tão unida e que mal algum trazia à população? Que país é esse que cria guerras-civis contra aqueles que deveria defender em vez de humilhar?

Quantos nomes a História oculta e quantos massacres a versão inculta das autoridades insiste em apagar? Nossa política partidária, sempre autoritária, grande herança portuguesa, põe facínoras no poder, de direita e esquerda, que não ligam para o povo, só oprimem. A aristocracia mal sabia o que era o sertão, sua visão burguesa de nação gira em torno do capital. Não pagar imposto é o maior crime capital.

O governo é o maior inimigo de um povo em miséria que se estabelece em Belo Monte e prospera sob o comando do xamã Conselheiro, um velho guerreiro que sabe administrar. A política da época faz muito sangue em vão derramar, cada jagunço luta pelo seu lugar.

Dentre os locais por onde o peregrino passou estão, No Ceará: Quixeramobim, Sobral, Campo Grande (Guaraciaba do Norte) e Ipu. Pernambuco, Alagoas, Sergipe e na Bahia: Itapicuru, Bom Conselho (Cícero Dantas), Masseté e Belo Monte. Um suposto mal-entendido em Juazeiro dá vazão a uma guerra-civil. Claro que não passa de uma desculpa vil.

A população do Rio ataca os jornais: "Gazeta da Tarde", "Liberdade", "Apóstolo" e "O Comércio de São Paulo" em seu Estado é destroçado. Defender a monarquia, mesmo que ideologicamente, era visto como ameaça. Governantes e oposição envolvidos na mesma arruaça.

Juá, Aracati,Juê, Tabuleirinhos, Monte Santo, Uauá, Queimadas, Cambaio, Arraial de Cumbe ( Euclides da Cunha), Sítio do Rosário, Rancho do Vigário, Sergipe, Jeremoabo, serras de Comboio e Calumbi, Favela, Corocó e Macambira foram percorridos pelo governo algoz.

De um lado, espingardas velhas, armas brancas, facões, foices, varapaus, lanças de vaqueiro e forquilhas, do outro, canhões 32 e metralhadoras. Até velhos, mulheres e crianças havia em batalha feroz.

Milhares desertaram rasgando as fardas e arrancando insígnias, centenas morreram pelo caminho, cabeças foram decepadas, muitos rasgões de espinho. As sertanejas rendidas foram estupradas, os homens enforcados.

Entre os heróis do povoado constam: João Abade, Antônio Beatinho, Manuel Quadrado, Ana do Bom Jesus, João Félix (Taramela), Leão da Silva, Antônio Calixto do Nascimento, Pajeú, Pedrão, Antônio Fogueteiro, Joaquim Tranca-Pés, Macambira e João da Costa, um sobrevivente.   

Dentre a corja inimiga, generais: Frederico Sólon Ribeiro, Moreira César, Artur Oscar, Silva Barbosa, Savaget e Carlos Eugênio. Presidente Prudente de Morais e o vice Manuel Virotino, coronel Nunes Tamarindo, delegado José Gonçalves, governador Luís Viana, tenente Pires Ferreira, major Febrônio de Brito, comandante Miguel Girard, marechal Machado Bittencourt (ministro da guerra), Juiz Arlindo Leone, praças, polícia de vários Estados, exército nacional e a Igreja. Tantos poderosos em tamanha peleja.

Um povo carente com tamanha destreza numa espécie de fantasmogênese sertaneja derruba à bala os invasores, mas sua cidade promissora é destruída sob um rio de sangue, por fim. Cortaram a cabeça de Conselheiro póstumo mas não destruíram suas idéias nem apagaram sua honra. A nação brasileira é que é louca, nunca Antônio Maciel. Ele é o Vercingetórix cearense da Bahia que viveu às margens do Vaza-Barris.

A ditadura do poder impede o homem de ser feliz. Que dever pode cobrar quem não lhe dá direito a nada? Por que deve pagar quem só recebe porrada? Merece algum cidadão ser tirado de seu chão por abutres infames? Que diferença faz ser monarquista ou florianista se ambos são farinha do mesmo saco? Os vampiros ainda culpam as vítimas por perderem sangue, não são eles que sugam? Como não se revoltar com uma União parasita? O que fazer para que o massacre a Canudos não se repita?

Aroldo Historiador
02/10/2009

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