terça-feira, 5 de novembro de 2019

55-OBRAS DE ARTE: A ARTE NO BRANCO DOS RÉUS

55-OBRAS DE ARTE: A ARTE NO BRANCO DOS RÉUS

INTRODUÇÃO:

Dependendo da sua visão sobre o que é arte, este título pode parecer estranho, tenho certeza de que vai ser assim para muita gente. Todavia, não há nada de estranho realmente, pois a arte em si não é aquilo que muitos pensam, inclusive do modo que nós mesmos pensávamos há alguns anos atrás.

O texto a seguir, pode ser uma quebra de paradigma para muitos, não é possível, portanto, exigir que os estudantes concordem com esse artigo assim como não podemos exigir mesmo que os professores e intelectuais concordem conosco.

Entretanto, nosso pensamento nele se coaduna em sua maior parte com a visão do Dr. Nigel e com a de Marilena Chauí. As fontes foram exclusiva e respectivamente a série "Como a arte moldou o mundo" e o texto "universo das artes". Por isso, para que ele seja trabalhado devidamente é preciso o contato direto com essas duas fontes para que depois haja debate seguido de produção textual.

OBRAS DE ARTE

Para se falar em arte primeiro temos que perguntar o que é arte. Responder a esta pergunta não é fácil. Lembramos que não há nenhuma definição satisfatória a respeito. Para uma análise profunda, primeiro vamos quebrar o conceito de belas-artes e artes mecânicas.

Imagine a arte como fruto natural daquilo que é vivo, por exemplo: o pensamento, que nos permite prever perigos ocultos e criar um aprimoramento dos recursos naturais para podermos viver mais e melhor.

Arte é o próprio movimento da vida, e artista não é o humano que se esconde na estética vazia ou apenas o conteudista sem técnica, por assim dizer. A arte não carece de intenção cognitiva e sim vida. A arte é a história oculta de tudo o que é vivo.

As divisões de Platão em judicativas e dispositivas, de Aristóteles em Práxis e Poesis, de Plotino em artes naturais, de fabricação e humanas e de Varrão em artes liberais e servis, são ilegítimas. Por que uma arte seria mais importante que outra, se elas se completam?

Por que as artes mecânicas seriam piores ou melhores que as belas-artes quando suprem carências distintas? Por que a arte erudita seria sublime e a popular não? E por que o artista de belas-artes seria um ser diferente dos demais, se todos os seres vivos são os reais artistas?

O artista não tem poder algum, porque poder não existe. Não é divino, pois não existe divindade. A inspiração dos deuses é uma grande farsa, pois o misticismo é uma arapuca mental de controle social, desde o início das civilizações.

As religiões não criaram a arte, mas as artes criaram as religiões, ciências, o senso comum, e tudo o mais em que os seres vivos mexeram virou arte.

Voltando-se para nós humanos, a arte sempre foi uma incógnita, há inúmeras divisões sobre os tipos de arte, por exemplo: Platão divide as artes em judicativas, voltadas para o conhecimento e dispositivas, atividade sobre determinadas regras.

Para Platão, poetas, pintores e escultores desrespeitam os deuses por pregarem a paixão humana. Já a música e a dança formariam melhor o caráter das crianças e adolescentes. Via a gramática, estratégia, aritmética, geometria e astronomia como fundamentais na formação de guerreiros e também filósofos, que deveriam aprender uma arte a mais, a dialética.

Aristóteles faz a distinção entre práxis, ou artes possíveis: política, ética, ciências e filosofia. E poesis, ou arte-técnica: todos os outros tipos de arte que envolvam alguma técnica, como as belas-artes. Também supervaloriza a música, que purificaria a alma, para ele.

Plotino conceitua as artes naturais: medicina e agricultura. Artes de fabricação: artesanato. E artes humanas: música e retórica.

A visão de Varrão no século II, que se estende até o século XV, é de artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. E de artes servis: medicina, arquitetura, agricultura, pintura, escultura, olaria e tecelagem.

No século XX se dá a reparação entre arte erudita tecnológica e popular artesanal. Sendo a arte entendida como expressão da verdade e não da beleza. Tem-se outros pontos de vista sobre a arte: como de cunho social, expressiva e como trabalho ou filosófica ( quando volta-se para a natureza, o homem e a função da própria arte).

Para Nietzsche, a arte era um jogo de exaltação da vida, que a estimulava em êxtase. Já Kant e Hegel defendem a ideia da arte como pedagogia, assim como Aristóteles e Platão.

Muitos defendem a arte como libertação: no teatro, Brechet e Augusto Boal; na poesia, Maikóviski, Pablo Neruda, Ferreira Gullar e José Paes; no romance, Sartre e Graciliano Ramos; no cinema, Einsestein, Chaplin e no cinema novo brasileiro; na pintura, Picasso e Portinari; na música, a música de protesto e a MPB dos anos 60 e 70, com Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Milton Nascimento, dentre outros.

As belas-artes serviam à religião, tendo relação íntima com o "sagrado". O artista era um mago. O médico e o astrólogo eram artesãos. Arquitetos, pintores e escultores eram iniciados num ofício sagrado. Todos esses conheciam mistérios sobre gestos, cores, instrumentos e ervas e é como se recebessem "dons" dos deuses e para os deuses.

Hoje, com a era dos meios de comunicação, as artes se banalizam em prol do entretenimento sem conteúdo. Entretanto, a arte em si não é algo bom ou mau. As belas-artes servem ao poder desde longa data, mas também servem ao povo, quando informam, por exemplo: através de uma crônica jornalística, uma visão apurada da realidade política ou por meio de uma poesia que escancara as falcatruas sociais escondidas.

Essa espécie de aura sobre os "artistas" perdura, mas temos que encará-los como pessoas comuns. Todos nós somos capazes de produzir poesia, música, cinema, pintura, escultura, fotografia, entre outras coisas, de modos diferentes. Não há nenhum "dom" por trás da arte, uma vez que dom não existe, e sim, trabalho árduo. Pelo menos os artistas que produzem obras "eternas" trabalham duro.

Aroldo Historiador
2009

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