Para a historiadora Emília Viotti, o Brasil nunca foi um país democrático, pois os direitos do cidadão não foram postos em prática como deveria. O liberalismo aqui sempre foi conservador.
Estudar a História contemporânea, para ela, é um avanço, mas a repressão política fez com que os historiadores fugissem do engajamento. Vê a pressa com que se produzem ensaios e livros didáticos, hoje, como negativa; uma vez que boas obras requerem muito tempo de estudo e reflexão.
Na visão de Hobsbawm, a Revolução Industrial britânica nasceu do intercâmbio com o mercado externo, principalmente as colônias, e se firmou com as vias ferroviárias, graças ao superávit anual de 60 milhões de libras esterlinas que são investidas na produção de ferro e aço pelo forte anseio de absorver lucros maiores, decorrentes da expansão de mercado.
Para Dobb, a Revolução Industrial não foi homogênia e nem tão rápida assim. Se deu por processos contínuos de mudanças de relações sociais, econômicas e técnicas em função do avanço dos maquinários, que geraram toda uma cultura capitalista da exploração do trabalhador e da mecanização cada vez maior dos operários.
E nós herdamos esse sistema opressor da mais-valia que cria multinacionais monopolizadoras do mercado, aumentando sempre o lucro do empregador sem reajuste digno do salário do proletariado. As classes pobres é que sentiram o baque da mudança de vida com as indústrias enquanto a aristocracia britânica enriquecia muito.
Engels aponta a disparidade que tomariam as classes e os inevitáveis conflitos que tenderiam a se agravar. A maior parte dos operários eram mulheres, o que desestrutura toda a organização familiar. A promiscuidade era bastante elevada dentro das fábricas.
Havia crianças de cinco anos contratadas, que apanhavam até de chicote, trabalhando entre 6 e meia e 16 horas por dia. Essas crianças viviam doentes, quando não morriam cedo. Em algumas fábricas existia uma equipe de operários diurna outra noturna.
O Parlamento obriga às fábricas a por meninos com menos de 14 anos para estudar, mas como denunciam Karl Marx e o inspetor de fábricas Jhon Kincaid, as escolas eram totalmente desprovidas de recursos, quando os mestres não eram analfabetos.
Para Maria Stella Martins Bresciani, o advento das máquinas deixou o homem alienado, em profusa crise existencial. Pois o homem passara a viver uma artificialidade total.
Temos que ver as permanências históricas além do engajamento, a troca dos sistemas de governo, como capitalismo e república, ou no nosso caso, república-capitalista, não eliminaram a escravidão, ao contrário, criaram novas formas de se escravizar o indivíduo, inclusive intelectualmente, por meio da cultura de massa.
A minha geração, de 80-90, é chamada de “Geração Coca-cola”, justamente por essa cultura de “enlatados dos USA” como diria Renato Russo. Nas palavras de Gabriel, o pensador, “faça uma lavagem cerebral”, entenda que nossa liberdade é limitadíssima dentro do sistema democrático no qual vivemos.
O sistema escravista do Brasil muda por imposição da Inglaterra, carente de consumidores em sua revolução descomunal. Escravo tem poder de consumo? O da senzala não. Então, abaixo à senzala e viva à escravidão industrial!
Aroldo Historiador
2010
Fontes:
Textos: O Brasil pagou caro pela Independência, entrevista com Emília Viotti da Costa
A Revolução Industrial, de Marques, Berutti e Faria.
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