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86-CRATO: Caldeirão, Confederação do Equador e 91 anos de Erro Histórico
86-CRATO: Caldeirão, Confederação do Equador e 91 anos de Erro Histórico
O Crato é mais uma cidade com a contagem errada de sua idade no Ceará. Os motivos são gerais e estão descritos a seguir.
A intenção deste artigo é a correção histórica por ser esse um dos papéis fundamentais de um historiador, portanto é isto a que se propõe o presente escrito.
A intenção deste artigo é a correção histórica por ser esse um dos papéis fundamentais de um historiador, portanto é isto a que se propõe o presente escrito.
A História está repleta de erros propositais, anacrônicos, etimológicos e de desconhecimento técnico, por isso o historiador precisará da visão conjunta de diversas outras ciências, e em cima dos dados conjuntos fazer uma analogia para que se faça uma desfragmentação.
Somente por meio da desfragmentação científica a história se tornará mais verdadeira e a História Oficial talvez um dia deixe de ser uma fraude proposital dos vencedores ou uma fraude por erro de incompetência técnico-analítica sociocultural.
“A povoação do Crato, reduto inicialmente conhecido pelos nomes de Missão do Miranda, Aldeia do Brejo Grande e Missão dos Cariris Novos, teve a seguinte evolução política:
- Elevou-se à categoria de Vila segundo Carta de 16 de dezembro de 1762;
- Instalada a 21 de junho de 1764, com a denominação de Vila Real do Crato;
- Elevada à categoria de Cidade pela Lei Provincial nº 628, de 17 de outubro de 1853.”
Analisando isto com cuidado vemos que o Crato de fato possui de fato 254 anos, porque em 1764 apenas houve uma mudança de nome e em 1854 houve apenas uma confirmação da lei anterior, portanto, a lei seguinte passa a ser nula porque já existe uma anterior dizendo exatamente a mesma coisa.
Esse erro é frequente pelo desconhecimento etimológico das palavras e desconhecimento histórico; acontece que vila tem entre os seus significados o mesmo que cidade, em Portugal e no Brasil mesmo muitos anos depois do Império. A ressignificação etimológica acaba por decorrer em anacronismo por desconhecimento técnico-histórico-etimológico.
Mesmo tento sido considerado um país por um dia em cidade em 3 de maio de 1817, isso não anula a lei anterior porque toda cidade conta a sua idade pela primeira emancipação e não pela última, o desconhecimento dessa informação também resulta em anacronismo e por isso muitas cidades como Pacoti e Guaramiranga tendem a contar errado a sua idade pelo desconhecimento técnico também dessa informação.
Para mostrar isso mais claramente pegamos emprestado aqui o significado da palavra vila no glossário do livro “A construção do Ceará: Temas de história econômica”, do economista Cláudio Ferreira Lima (2008), página 204, parágrafo 4:
“ VILA
Localidade com o mesmo nome do distrito a que pertence – sede distrital – e onde está sediada a autoridade distrital, excluídos os distritos das sedes municipais. Sede do termo; unidade político-administrativa autônoma equivalente a município, trazida de Portugal para o Brasil no início da colonização ( a primeira vila criada no Brasil foi São Vicente, em 22/01/1532), tendo perdurado até fins do século XIX; toda vila deveria possuir câmara e cadeia, além de pelourinho – símbolo de autonomia; termo empregado em substituição a município, pois este não podia ser empregado na colônia, ou seja, em terras não emancipadas.”
(Lima, Antônio Cláudio Ferreira. A construção do Ceará: temas de história econômica/ Antônio Claudio Ferreira Lima. – Fortaleza: Instituto Albanisa Sarasate, 2008. 316 p. (Coleção Anuário do Ceará) ISBN 897-85-60900-00-8).
Com “terras não emancipadas”, Ferreira Lima se refere ao Brasil, pertencente a Portugal.
“(...) A povoação de Miranda elevou-se à categoria de vila em 16 de dezembro de 1762, tendo sido instalada em 21 de junho de 1764 como Vila Real do Crato, no século XVIII, constituindo um dos mais importantes núcleos de povoamento na época colonial no interior do Nordeste. Foi tornada cidade pela Lei Provincial nº 628, de 17 de outubro de 1853.(...) ”
(...) No século XIX, já habitavam na vila do Crato famílias que enviavam seus filhos para estudar em Recife, capital da província de Pernambuco. Foi por lá que muitos entraram em contato com os ideais de independência e adoção do regime republicano no país. Assim, José Martiniano de Alencar, subdiácono e estudante do Seminário de Olinda, deflagrou o movimento republicano no conservador Vale do Cariri, a ter o Crato como palco principal. Repercutindo os ideais da Revolução Pernambucana de 1817, Martiniano "proclama" a independência do Brasil no púlpito da matriz da cidade em 3 de maio de 1817.
Com isso, a cidade do Crato foi considerada um país por um dia. O proprietário Leandro Bezerra Monteiro, o mais importante proprietário rural do Cariri, católico e monarquista, pôs fim ao intento republicano. Os revolucionários foram presos e enviados para as masmorras de Fortaleza e posteriormente para as de Salvador, na Bahia. Entre os prisioneiros estavam Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e Dona Bárbara de Alencar, irmão e mãe de José Martiniano. Recebem a anistia pela autoridade real posteriormente. (...)
Em 1824 eclode em Pernambuco a Confederação do Equador. Tristão Gonçalves de Alencar Araripe mais uma vez adere ao movimento e é aclamado pelos rebeldes Presidente da Província do Ceará.
Em 31 de outubro de 1825 morre em combate com forças contrárias ao movimento. Após tais acontecimentos, em Crato, assim como no Cariri, muitos se dividem entre monarquistas e republicanos.
Entre os primeiros estava Joaquim Pinto Madeira, chefe político da Vila de Jardim e Capitão de Ordença que prendera os revolucionários, entre eles Tristão Gonçalves de Alencar Araripe .
Com a renúncia de D. Pedro I, inimigos do monarquista aproveitam para se vingar e Pinto Madeira em sua defesa arma dois mil jagunços com a ajuda do vigário de Jardim, padre Antônio Manuel de Sousa.
Invadem o Crato em 1832 para derrotar os inimigos políticos. Apesar de vitoriosos no começo, Pinto Madeira e Antônio Manuel sofrem reveses e, finalmente presos, são enviados ao Recife e Maranhão. Retorna ao Crato em 1834 e é condenado a forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face do réu ter alegado sua patente militar de coronel.
Tanto Tristão Gonçalves quanto Pinto Madeira dão nome a rua e bairro, respectivamente, na cidade nos dias de hoje.
Segunda metade do século XIX: Criação da Diocese, Caldeirão e outras mudanças.
No início do século XX, a cidade dividiu com o recém criado município de Juazeiro do Norte a liderança política do vale do Cariri. Joaseiro, como era conhecido, era uma localidade pertencente à Crato e seu processo de autonomia política seria encabeçado por, entre outros, padre Cícero Romão Batista.
Em 20 de outubro de 1914, é criada a Diocese do Crato pelo papa Bento XV através da Bula "Catholicae Ecclesiae". A Igreja Católica foi responsável pelo progresso material e social de Crato inicialmente, pois aí fundou o Seminário menor de São José (primeiro do Interior cearense), a pioneira cooperativa de crédito (Banco do Cariri), escolas, hospitais e a Faculdade de Filosofia de Crato, embrião da atual Universidade Regional do Caririfundada no ano de 1986. Ainda em 1914, Crato foi palco de confrontos da Sedição de Juazeiro, levante que levaria à deposição do Governador Marcos Franco Rabelo
Em 1926, o Crato ligou-se a Fortaleza, através da inauguração da estação de trem do Crato, o ponto final da extensão da Estrada de Ferro de Baturité, que teve início a partir de 1910.
Durante a seca de 1932, o Crato é um dos locais onde é instalado pelo governo estadual um dos Campos de Concentração no Ceará ou mais conhecido como os Currais do Governo. Os flagelados da seca que procuravam a ajuda do padre Cícero foram então alojados no sítio da localidade de Buriti. O campo do concentração do Crato foi um episódio marcante na História do Ceará.
Com o fim de canudos, o beato José Lourenço Gomes da Silva vem morar em Crato e, com o aval do Padre Cícero, funda a irmandade da Santa Cruz do Deserto. A primeira base desta comunidade localizava-se no Sítio Baixa Dantas.
Em 1926 a irmandade sai deste sítio e vai para o Caldeirão dos Jesuítas. O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, um experimento sociorreligioso que incomodou as principais forças regionais da época, teve o seu fim em 1937 e entrou para a História do Ceará como um massacre no qual, pela primeira vez História do Brasil, aviões foram usados como objetos de arma.
O município, atualmente, mantém um padrão de vida significativo se comparado com algumas cidades não muito distantes da região do Cariri. Seu último e atual bispo, o ítalo-brasileiro Dom Fernando Panico, deu início ao processo de reabilitação do Padre Cícero, abrindo, assim, uma possibilidade para que o sacerdote seja oficialmente beatificado e, futuramente, canonizado pela Igreja Católica.”
“CRATO SURGIU EM MEADOS DO SÉC. XVIII, com o movimento ligado ao ciclo da criação de gado. Aldeamento indígena em 1740, foi em 1764 elevada à categoria de vila e, em 1853, à de cidade. Na segunda metade do séc. XIX, a expansão da lavoura do algodão foi fator de grande desenvolvimento local.
Também se tornaram importantes sua produção de cana-de-açúcar, óleos vegetais e cerâmicas.
A cidade do Crato, que festejou seu centenário em outubro de 1953, reúne um acervo histórico dos mais ricos, que remonta à fundação da vila que a antecedeu, ainda no séc. XVIII, mais precisamente a 21 de junho de 1764, quando o ouvidor Vitorino Pinto Soares Barbosa assinou a criação da Vila Real do Crato, denominação dada em homenagem ao lugarejo português localizado no Alentejo.
Crato, na realidade, data do séc. XVII, com as "entradas" de exploradores baianos, entre 1660 e 1680, a serviço da Casa da Torre.
Em 1911, a Lei Estadual 1.028, de 22 de julho, desmembrava do Crato o Distrito de Juazeiro.
Em 1914, a Bula Papal de 20 de outubro criava a Diocese do Crato, sendo nomeado seu primeiro bispo, D. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, que tomou posse a 25 de março de 1916.
No passado teve as denominações de Missão do Miranda, Aldeia do Brejo Grande e Vila Real do Crato.
Ao longo dessa sua existência de mais de dois séculos, o Crato testemunhou alguns episódios da maior importância para a História do Ceará. A cidade assistira, em 1817, a adesão dos seus mais ilustres filhos ao movimento revolucionário em Pernambuco.
Foi importante núcleo de povoamento na época colonial e atualmente é um importante centro industrial e entroncamento rodoviário, com excelentes perspectivas para o ecoturismo.
Aroldo Historiador
29/06/2016
Fontes:
Página no Facebook do Grupo Memória Histórica do Crato
(Lima, Antônio Cláudio Ferreira. A construção do Ceará: temas de história econômica/ Antônio Claudio Ferreira Lima. – Fortaleza: Instituto Albanisa Sarasate, 2008. 316 p. (Coleção Anuário do Ceará) ISBN 897-85-60900-00-8).
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