90-ANÁLISE DE "O BÊBADO E O EQUILIBRISTA
"O BÊBADO E O EQUILIBRISTA"
Cantada por :Elis Regina em 1979 - Brasil
De: João Bosco (melodia) e Aldir Blanc (letra)
"Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
#A_lua, tal qual a dona do #bordel,
Pedia a cada #estrela_fria
Um brilho de aluguel
E nuvens, lá no mata-borrão do céu,
Chupavam manchas torturadas, que sufoco!
Louco, o bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil pra noite do Brasil.
Meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu num #rabo_de_foguete.
Chora a nossa pátria mãe gentil,
Choram #Marias_e_Clarisses no solo do Brasil.
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente, a esperança
Dança na #corda_bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se #machucar
Azar, a esperança #equilibrista
Sabe que o #show_de_todo_artista_Tem_que_continuar"
A minha análise será simples e será somente sobre as partes marcadas:
1. A primeira delas é:"A LUA": Imaginem o centro da bandeira do Brasil, que nada mais é que uma bola azul que se fosse branca seria semelhante à Lua, e ao mesmo tempo que estava no centro eram os militares, representados pelo verde, e eis que verde é a cor da frase "ordem e progresso". A Lua pode ser referência aos militares, como as donas do bordel.
2. Bordel: Sendo os militares a dona do bordel, logo, o bordel é aquilo no que eles transformaram o Brasil.
3. Estrela Fria: Quando uma estrela está fria isso significa que ela está morta, sendo assim representa as mortes e ao mesmo tempo sabemos que as estrelas na bandeira são os Estados, logo, significa que os Estados estão calados perante às mortes causadas pela ditaduras porque nesse grande bordel, Brasil, cada "dono" de cada Estado foi comprado, daí o "brilho de aluguel". Sendo o frio a morte o brilho nesse sentido não existe e é na realidade substituído pelo silêncio, ou seja; a censura, motivo pelo qual a própria música teve que usar tantos recursos literários.
4. Rabo de foguete: "tanta gente que partiu num rabo de foguete.", o que isso significa? Bem, o que é um "rabo de foguete? É justamente onde fica o fogo, o que a gente pode remeter a armas de fogo, daí o nome "anos de chumbo", logo, o "tanta gente que partiu" também tem duplo sentido, o primeiro deles é o exílio, o segundo deles novamente é a morte; sendo que tanta gente sumiu por morte, por exílio e uma terceira opção ainda, os incomunicáveis, que sumiram sem deixar vestígio algum, que mesmo os arquivos que nem a "comissão da verdade" pode abrir, sendo abertos mostrariam. Inclusive "rabo de foguete" é tido como uma gíria criada no submundo do crime, como "perigo".
5. Marias e Clarisses: Como não se pode citar todas as mulheres e maridos de todas as pessoas sequestradas, exiladas e assassinadas pela Ditadura Militar, então, os autores escolheram duas mulheres reais, mas ao mesmo tempo sem lhes citar os sobrenomes para não as por em perigo na época da criação da música (1979).
6. Corda bamba: Isso aqui é ótimo para se pensar de várias formas, porque em uma ditadura, todos estão na corda bamba, mas pensemos aqui na luta de classes. As classes dominantes acham que estão sempre protegidas, mas em um golpe os dominantes agem como ditadores antigos que só pensam em criar novas guerras e em oprimir seja lá quem for. Sendo assim, o chão firme de quem apoia a ditadura visto de baixo é uma mera corda bamba que basta um empurrão para de lá se morrer.
5. Marias e Clarisses: Como não se pode citar todas as mulheres e maridos de todas as pessoas sequestradas, exiladas e assassinadas pela Ditadura Militar, então, os autores escolheram duas mulheres reais, mas ao mesmo tempo sem lhes citar os sobrenomes para não as por em perigo na época da criação da música (1979).
6. Corda bamba: Isso aqui é ótimo para se pensar de várias formas, porque em uma ditadura, todos estão na corda bamba, mas pensemos aqui na luta de classes. As classes dominantes acham que estão sempre protegidas, mas em um golpe os dominantes agem como ditadores antigos que só pensam em criar novas guerras e em oprimir seja lá quem for. Sendo assim, o chão firme de quem apoia a ditadura visto de baixo é uma mera corda bamba que basta um empurrão para de lá se morrer.
7. Machucar: "a esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha pode se machucar", porquê? Porque machucar era o que a ditadura estava fazendo sem parar, por isso a "dor assim pungente", o que expressa claramente uma ideia de tortura. Se "em cada passo dessa linha pode se machucar", isso quer dizer que não existe lugar ou classe social seguros, qualquer um pode se machucar e idiota é quem pensa que não.
8. Equilibrista: As classes média e alta que se calavam. Todas aquelas pessoas que sabiam o que havia de errado mas, não tinham coragem alguma de lutar para não perder os seus privilégios ou mesmo por acreditarem cegamente que o país estava de fato evoluindo. Todos equilibristas porque não estava isentos da queda a qualquer minuto, uma vez que "comunista", "subversivo", "anarquista", "socialista", "vermelho" ou "transgressor" seria qualquer um que qualquer soldado golpista quisesse.
9. Show de todo artista Tem que continuar: Que show? Que artista de fato tem que continuar? Justamente os tais "subversivos". O Show na verdade significa luta, o que tem que continuar é a luta sempre e "artista" é de fato somente os que se rebelam, aberta ou veladamente, significa que apenas os engajados têm valor e que por isso não devem parar nunca, como quem diz "avante!", "não desistam!".
9. Show de todo artista Tem que continuar: Que show? Que artista de fato tem que continuar? Justamente os tais "subversivos". O Show na verdade significa luta, o que tem que continuar é a luta sempre e "artista" é de fato somente os que se rebelam, aberta ou veladamente, significa que apenas os engajados têm valor e que por isso não devem parar nunca, como quem diz "avante!", "não desistam!".
Aroldo Historiador
15/01/2017
Outra análise mais detalhada:
"Gravada em 1979, esta música de João Bosco (melodia) e Aldir Blanc (letra), retrata uma época marcante da história do Brasil e tornou-se um hino à anistia no período final da ditadura militar iniciada no golpe militar de 1964. Ao fim da década de 1970 a ditadura brasileira sofria grandes reveses. A pressão pela abertura democrática vinha de todos os lados, mas o regime se mantinha duro e firme.
As incertezas eram imensas e quem ousava levantar a voz contra o regime corria o risco de pagar, até com a própria vida, pelo ato. Assim, este texto é um discurso de denúncia e esperança: O “Bêbado” é a classe artística, representada pelo seu símbolo-maior, Carlitos, personagem de Charles Chaplin, com toda sua aura de liberdade e utopia.
Chaplin foi um artista cujo trabalho visava as pessoas menos favorecidas, e no final dos seus filmes havia sempre uma estrada e uma esperança, onde Carlitos andava em direção ao infinito.
A “Equilibrista” representa aquele fio de esperança que estava surgindo, a democracia. Aldir Blanc foi muito feliz em representar algo tão tênue e incerto quanto nossa abertura política, na figura de uma equilibrista.
Desta forma, ambos, a classe artística e a esperança de democracia tinham que se equilibrar em suas “cordas-bambas” para poderem atingir seus objetivos. Aldir Blanc é considerado um poeta-repórter, pois seus textos geralmente são fatos de uma época, e o discorrer desta música são imagens deste período de incertezas.
No verso “Caía a tarde feito um viaduto”… Ele quer dizer que a tarde caia abruptamente, tal qual parte do Viaduto Paulo Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971. “E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos”… O “traje de luto” simboliza o estado no qual a classe artística encontrava-se na época, pela falta de liberdade de criação.
Invariavelmente, todo fim de tarde sugere melancolia e tristeza, uma vez que estamos saindo da claridade do dia para a escuridão da noite. Aldir Blanc utilizou esta imagem para representar a situação na qual vivia o Brasil.
Além de quê, sabe-se que as sessões de torturas eram realizadas nos porões do DOI-CODI durante a noite. Sem luz própria, “A lua” assume as funções de “dona de bordel”, pegando emprestado um pouco de brilho das estrelas, exatamente como faz a cafetina com suas contratadas, e também para fixar a imagem de que naquele início de noite, tal qual prostitutas, as estrelas eram de brilho falso e sem vontade de brilhar. Ainda com os olhos para o alto, há “as nuvens e o céu”.
Estas imagens nos remetem ao universo da religiosidade. No final da década de 1970, quando o país discutia a anistia geral e irrestrita, a igreja católica demorou a se posicionar e acabou defendendo a anistia, mas com restrições.
A imagem de “mata-borrão do céu” demonstra o poder político e balsâmico da igreja. Dentro do texto, o protesto contra as torturas que ocorriam na calada da noite fica evidente. Para saudar essa noite do Brasil, só se justificava se fosse na alegria etílica de um bêbado.
Somente num estado de loucura poderia se reverenciar aquela realidade. O nacionalismo aparece nas entrelinhas com o Hino Nacional. “A nossa pátria, mãe gentil” abrigava as esposas e mães que choraram por seus filhos e maridos. A primeira entidade organizada para lutar pela anistia foi o MFA – Movimento Feminino pela Anistia, criado em 1975.
O texto também fala dos exilados, como foi o caso do sociólogo Betinho, irmão de Henfil, e relembra as mortes do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgico Manuel Fiel Filho ao citar os nomes de suas esposas, Maria e Clarisse, respectivamente.
Este texto traz a voz de alguém que num momento de consciência, acorda para um mundo totalmente adverso, observa o que está à sua volta, o céu da cidade, um bêbado, o cair da tarde. Tudo é estranho e triste.
Mesmo assim há uma esperança que não abandona a sua missão. Por isso pode-se vislumbrar a liberdade e sonhar com ela, mesmo quando os olhos só vêem a opressão. Fica claro no texto que o desejo de liberdade sempre vai estar no coração do homem. Esta é a sua arte."
As incertezas eram imensas e quem ousava levantar a voz contra o regime corria o risco de pagar, até com a própria vida, pelo ato. Assim, este texto é um discurso de denúncia e esperança: O “Bêbado” é a classe artística, representada pelo seu símbolo-maior, Carlitos, personagem de Charles Chaplin, com toda sua aura de liberdade e utopia.
Chaplin foi um artista cujo trabalho visava as pessoas menos favorecidas, e no final dos seus filmes havia sempre uma estrada e uma esperança, onde Carlitos andava em direção ao infinito.
A “Equilibrista” representa aquele fio de esperança que estava surgindo, a democracia. Aldir Blanc foi muito feliz em representar algo tão tênue e incerto quanto nossa abertura política, na figura de uma equilibrista.
Desta forma, ambos, a classe artística e a esperança de democracia tinham que se equilibrar em suas “cordas-bambas” para poderem atingir seus objetivos. Aldir Blanc é considerado um poeta-repórter, pois seus textos geralmente são fatos de uma época, e o discorrer desta música são imagens deste período de incertezas.
No verso “Caía a tarde feito um viaduto”… Ele quer dizer que a tarde caia abruptamente, tal qual parte do Viaduto Paulo Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971. “E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos”… O “traje de luto” simboliza o estado no qual a classe artística encontrava-se na época, pela falta de liberdade de criação.
Invariavelmente, todo fim de tarde sugere melancolia e tristeza, uma vez que estamos saindo da claridade do dia para a escuridão da noite. Aldir Blanc utilizou esta imagem para representar a situação na qual vivia o Brasil.
Além de quê, sabe-se que as sessões de torturas eram realizadas nos porões do DOI-CODI durante a noite. Sem luz própria, “A lua” assume as funções de “dona de bordel”, pegando emprestado um pouco de brilho das estrelas, exatamente como faz a cafetina com suas contratadas, e também para fixar a imagem de que naquele início de noite, tal qual prostitutas, as estrelas eram de brilho falso e sem vontade de brilhar. Ainda com os olhos para o alto, há “as nuvens e o céu”.
Estas imagens nos remetem ao universo da religiosidade. No final da década de 1970, quando o país discutia a anistia geral e irrestrita, a igreja católica demorou a se posicionar e acabou defendendo a anistia, mas com restrições.
A imagem de “mata-borrão do céu” demonstra o poder político e balsâmico da igreja. Dentro do texto, o protesto contra as torturas que ocorriam na calada da noite fica evidente. Para saudar essa noite do Brasil, só se justificava se fosse na alegria etílica de um bêbado.
Somente num estado de loucura poderia se reverenciar aquela realidade. O nacionalismo aparece nas entrelinhas com o Hino Nacional. “A nossa pátria, mãe gentil” abrigava as esposas e mães que choraram por seus filhos e maridos. A primeira entidade organizada para lutar pela anistia foi o MFA – Movimento Feminino pela Anistia, criado em 1975.
O texto também fala dos exilados, como foi o caso do sociólogo Betinho, irmão de Henfil, e relembra as mortes do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgico Manuel Fiel Filho ao citar os nomes de suas esposas, Maria e Clarisse, respectivamente.
Este texto traz a voz de alguém que num momento de consciência, acorda para um mundo totalmente adverso, observa o que está à sua volta, o céu da cidade, um bêbado, o cair da tarde. Tudo é estranho e triste.
Mesmo assim há uma esperança que não abandona a sua missão. Por isso pode-se vislumbrar a liberdade e sonhar com ela, mesmo quando os olhos só vêem a opressão. Fica claro no texto que o desejo de liberdade sempre vai estar no coração do homem. Esta é a sua arte."
Uma análise detalhada qui:
Análise da bandeira do Brasil:
Livro de Gullar com o título Rabo de foguete:
Gírias criminosas:
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